quinta-feira, 10 de abril de 2008

A EstÉtica Ocupada: por uma Ocupação dos Sentidos e os Sentidos da Ocupação


A EstÉtica Ocupada: por uma Ocupação dos Sentidos e os Sentidos da Ocupação

Fantasmas rondam os movimentos. Os movimentos não são feitos com fantasmas. É urgente recuperar os homens e as mulheres que fazem os movimentos, os homens e as mulheres que se movem - às vezes pelos fluxos, às vezes contra os fluxos (nem sempre com os fluxos). A ocupação da Reitoria da Universidade de Brasília se agencia como um corte de fluxo.

Homens e mulheres coabitam todos e todas nós. Fantasmas povoam nosso imaginário - há que se liberar, alforriar (mais que exorcizar) os fantasmas.

Há pelo menos 3 fantasmas aparentes: os Organismos, que normatizam e regulamentam os fluxos, os órgãos e as pessoas; os Sentidos, os Significantes, que são presenças metafísicas com aparência de necessidade; e os Sujeitos, entidades universais que nos impedem de ver os processos de subjetivação e assujeitamento, que mascara ou oculta as pessoas, que cria categorias e classes homogeneizantes.

Cortes de fluxos se fazem presentes atualmente. A normose do movimento cria autômatos, e as move em vias previamente determinadas - são bandos condicionados (até aí somos todos e todas condicionadas); mas as condições, elas mesmas, de onde vem?, para que servem? e a quem servem? Seguir essas condições impede a visão, faz tapar os ouvidos, cala a voz, desautoriza o toque (o tato é sempre diplomático); é inodora, insípida e insustentável - enfim, atrapalha a percepção, esfacela os sentidos.

De repente, o fluxo é interrompido. Sobem pela rampa contra-fluxos desejantes, um anti-poder, um proto-poder. O que vinha sendo, por continuidade de fluxo, sempre igual e sempre o mesmo, é cortado; é diferenciado; é extinto. Neste instante, por isso, por este corte de fluxo, o que se passava passa a ser percebido. O fluxo contínuo, e não somente o corte de fluxo, é notado - dele até sente-se falta, ainda que sua presença fosse, antes, metafísica, inaudita. A Reitoria, aquele prédio, aquele fluxo de pessoas que por ali caminhavam (trabalhavam até), não deixa de acontecer, mas agora ele acontece de maneira diferenciada. E é isso que os sentidos devem perceber - não a igualdade do todo-dia que nos falta, mas a singularidade que hora se nos apresenta e trás à tona o que antes era oculto (porque evidente), o que antes era normal (porque cotidiano) e o que antes não deveria deixar de ser (porque real). A virtualidade da invasão, quando atravessa o plano de consistência da realidade da Reitoria, dá novos contornos e atualiza o território - este território não deixa de ser o espaço de decisão da UnB, mas as decisões é que mudaram.

Agora que fluxo foi interrompido, e os sentidos ocupados, há que se dar sentido à ocupação? Tenta-se, a todo custo, preencher o vazio que fica na Reitoria. Tenta-se preencher de órgãos o corpo-vazio que agora permite a transitoriedade de fluxos, antes impedidos de por ali passarem. O organismo quer (re)tomar o lugar que agora é ocupado pelos movimentos.

Como dissemos, estas estratégias são lideradas pelos 3 fantasmas que assombram os movimentos.

No espectro do primeiro fantasma está a falta de sentido para a ocupação, a castração que a ocupação (pretensamente) parece operar. Ele indica que há uma certa lacuna - que precisa ser preenchida! - de aceitação, de submissão ao organismo: existe um organismo, existe um todo, existe algo que está organicamente organizado e que controla o movimento, os vários órgãos disjuntos. A este impulso de dominação do organismo é que se impõe a necessidade de um "corpo-sem-órgãos". Não é a negação dos órgãos ou a mera externalização do organismo: o organismo está dentro do movimento, nos pequenos fascismos e burocratismos tecnocráticos.Há um tipo de mídia que media, e há um tipo de mídia que nomeia.

Há um tipo de mídia que apresenta, e há um tipo de mídia que oculta. Há tipo de mídia que enfoca a experiência e busca o que acontece, e há um tipo de mídia que enfoca a interpretação e busca o que dá sentido. Não há um sentido para a ocupação, porque há muitos sentidos; como não há uma interpretação possível para a ocupação, porque há muitas experiências singulares na ocupação. O sentido da ocupação é a experiência do que acontece e não a interpretação do acontecido.

O segundo fantasma assombra pela necessidade de enunciação de um significado por um significante. Para cada coisa que se enuncia há um nome para dar sentido a essa coisa. E, para cada nome, há que se dar um outro nome para sustentar o sentido desse nome. Cada vez mais submerso, o sentido mesmo se perde em nomes, ou se multiplica em possibilidades. Há que se resgatar não o sentido perdido, mas a perda de sentido como reanimação dos sentidos-sensíveis. Esta EstÉtica da Ocupação fala da aesthesis como referência aos sentidos-sensíveis que permitem e captam a experiência da ocupação. E é por isso que ocorre a ocupação dos sentidos, mesmos dos sentidos esquecidos, dos sentidos ocultados. Há suor, há sangue, há lágrima, há paixão, há toque, há muitos sentidos envolvidos nesta ocupação. Que se ocupem os sentidos, pois!

O sujeito universal, onipresente e indivisível, que permite a existência de um organismo e que dá um sentido necessário ao acontecimento é o terceiro fantasma que ronda os movimentos. Há que se observar a desnecessidade de operação de um sujeito nessa ocupação. São sujeitos-desejantes coletivos, assujeitados e percorridos por processos de subjetivação que povoam aquele lugar. Desterritorializar o sujeito-estudante não é negar a existência de estudantes na ocupação da Reitoria, mas sim enfatizar que os ocupantes e as ocupantes não "são" somente estudantes, trancafiados nessa categoria com regras particulares de conduta e ação. Eles e elas também são percorridas por desejos variáveis, são devires-professor(a), devires-funcionário(a). Dar o aspecto de "sujeito-estudante" ao sujeito-desejante é normatizar os desejos, é conduzir os devires, é impedir a alteridade e legitimidade do movimento. Há que se buscar escapes, linhas de fugas que permitam sair desse imperativo e dessa categorização - para que se possa ir mais além.

Ocupemos! Ocupemos os sentidos, as mentes, os corpos!Vamos dar sentidos, vamos dar todos os sentidos, à ocupação! Vamos dar os nossos sentidos à ocupação!

E vamos fazer desse corte de fluxo uma possibilidade de repensar a trajetória do fluxo quando ele retornar (já diferente)!

Por Mateus Fernandes* - 10/04/08* Mateus é formando no Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília.

2 comentários:

Pela Qualidade da Nossa Geração disse...

Mas dotô, eu levo os pato ou deixo os pato?

http://www.banheiro222.blogger.com.br/2005_06_01_archive.html

Paulo Mendez disse...

Menino, num fala pra dentro q faz mal... escrever é uma tarefa que pressupõe que os outros aguentem ler o texto, e seu texto está intragável. Tente outra vez, ok? e nessa, tente ser menos prolixo e academicizante.