"Nem se os estudantes da UnB tivessem ensaiado um semestre inteiro eles fariam melhor. O movimento deflagrado pela garotada brasiliense contra a suposta corrupção nos altos escalões da UnB é, desde já, neste ano de 2008, a maior celebração e a crítica mais aguda ao mítico e explosivo ano de 1968. É a maior celebração porque recupera o inconformismo dos jovens com o que é inaceitável. E é a crítica mais aguda porque, com exceção de alguns momentos de destempero, recusa a pauta da violência, da onipotência e do culto às drogas, mazelas que atingiram a geração de jovens de 1968, com efeitos até os dias de hoje. "A não-violência exige mais coragem do que a violência", nos ensina Mahtama Gandhi, o grande líder da resistência pacífica.
Até a intervenção dos estudantes, o silêncio da comunidade acadêmica sobre os fatos era ensurdecedor, ecoando em Brasília e no Brasil. Mas a tradição de resistência da instituição é muito forte e, ao envolver outros setores, o movimento dos estudantes contribuiu decisivamente para restaurar a dignidade da Universidade de Brasília.
Educamos não apenas com nossas palavras, mas também com o nosso exemplo. Quando as coisas alcançam o ponto aonde chegaram é necessário berrar: basta! É preciso convocar a bateria da Aruc, os roqueiros das garagens do Plano Piloto, os rappers da Ceilândia, os navegantes da blogosfera, os punks de periferia e os de boutique. E botar o bloco na rua, com batuque, humor e alegria, que é a maneira brasileira e modernista de mudar o mundo. Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor. Não é possível que só o crime consiga ser organizado no Brasil. Precisamos (desesperadamente) da transparência, da decência e da mobilização organizadas.
Independentemente de outros desdobramentos, o movimento dos estudantes da UnB já é um marco histórico da luta contra a corrupção no Brasil. Argumenta-se que a invasão dos estudantes à reitoria fere o estado de direito. É verdade, mas a corrupção fere mais e é tratada com leniência. Se não houvesse corrupção, não haveria invasão. Existem dois pesos e duas medidas. Para quem comete atos ilícitos, todas as regalias do estado de direito. Para os que se indignam com tais descalabros, as penas da lei. O comportamento da meninada em relação ao patrimônio público tem sido exemplar. Nada a ver com baderna. Baderna é supostamente desviar dinheiro da saúde dos índios para pagar decorações suntuosas em apartamentos, banquetes, passagens para parentes, carros de luxo ou lixeiras de R$850 . Quem teve Darcy Ribeiro como reitor, não pode aceitar isto. Darcy é o grande pajé, o grande morubixaba, desse movimento. Basta de continuísmo, basta de corrupção, Darcy para presidente em 2010!
E, por falar nisso, vamos aproveitar para ouvir o que nos tem a dizer sobre os acontecimentos outro grande brasileiro, o pernambucano Paulo Freyre (1921-1997), o mais importante teórico da educação no Brasil e um dos maiores pedagogos do século 20 no mundo. Acionemos o site http://www.sobrenaturaldealmeida.com.br/, criado especialmente para realizar entrevistas mediúnicas. Fala mestre! "Eu acho que os adultos, pais e professores, deveriam compreender melhor que a rebeldia, afinal, faz parte do processo de autonomia, quer dizer, não é possível ser sem rebeldia. O grande problema está em como amorosamente dar sentido criador ao ato rebelde e de não acabar com a rebeldia. (…) O castigo não faz isso. O castigo pode criar docilidade, silêncio. Mas os silenciados não mudam o mundo".
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