Há alguns anos não víamos mobilizações tão intensas e politizadas no campus da universidade de Brasilia. Uma pauta que organizou muitos estudantes e trouxe grande unidade mesmo entre os que têm posições diferentes, tomou conta das paredes e dos jornais da cidade e do país, certamente merece ser olhada com atenção.
O projeto original da UnB foi abortado pelo golpe militar de 64. A universidade que deveria abrigar a diversidade de pensamento, de orientações ideológicas e assim pensar um projeto para o país foi transformada em uma simples autarquia administrada pela Marinha durante alguns anos. Uma instituição do conhecimento voltada para as questões concretas do povo, preocupada em responder aos problemas cotidianos, a serviço da nação. Essa instituição foi enterrada. Primeiro pela Ditadura Militar com sua intervenção autoritária e as seguidas invasões do campus e desde então, a UnB que Darcy sonhou, é enterrada todos os dias. Agora não mais pela ditadura do fuzil que prendia, expulsava e torturava mas pela ditadura do mercado que submete tudo a lógica do lucro, que negocia o preço e vende o saber que se pretendia de todos.
Nos últimos anos a Universidade de Brasília foi transformada em uma grife, com valor de mercado e que gera lucro para serem usados de forma privada, em jantares, reformas, presentes. As denúncias em torno da reitoria explicitam a lógica privada que tem sido mantida durante anos pela administração.
O que alguns achavam ser um clichê quando dizíamos que a universidade pública seria privatizada tornou-se realidade, a UnB foi, e continua sendo privatizada toda vez que seus recursos e patrimônio não são usados de forma pública, toda vez que estão a serviço de algum interesse privado, seja do reitor ou de outra pessoa.
A crise que tomou conta da universidade é antes de tudo uma crise da falta de democracia. A democracia é a prática da participação no espaço publico, é espaço de todos, da liberdade. Toda vez que algo que, por definição deveria ser gerido no universo público, é trazido para o privado isso deixa de ser democrático. Uma gestão, como as que temos visto, que tem suas decisões tomadas na presença poucos entre 4 paredes não é democrática e conseqüentemente não é publica.
A luta dos dias de hoje é em defesa de Unb que tem sido atacada, não pela mídia como alguns tentam dizer, mas sim pela atual administração. Defender a UnB pública significa defender a democracia na sua gestão. Durante a campanha pelas Diretas Já o slogan usado era O Brasil quer votar, muitos anos depois ainda é necessário que digamos Os estudantes querem votar. A reivindicação é por poder sim. Vamos juntos conjugar esse verbo, Eu posso.. , Tu podes ..., Nós podemos os estudantes podem participar, podem votar,PODEM decidir.
Os estudantes mais uma vez mostram a que vieram. Vieram lembrar a todos do que a UnB é feita. Lembram que é feita do livre pensamento dos que estão convictos de que apenas mentes libertas podem enfrentar a opressão. É feita também do suor dos trabalhadores que construíram e ainda constroem o dia a dia do campus. Mais do que isso, nossa universidade não seria o que é sem o sangue e a luta daqueles que acreditam na participação, que acreditam na UnB viva, sempre viva.
A UnB não pertence a esse ou ao próximo Reitor. A Unb é nossa, é de todos os estudantes. A universidade é de todos, é pública.
Viva a luta dos estudantes!
Viva e universidade de Brasilia!
Boa luta para todos nós!
Por Sarah de Roure, ex coordenadora geral do DCE Unb nas gestões 2002-2003 e 2003-2004 e ex diretora da UNE 2005-2007 .
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